sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um Banco e Suas Imagens

Apresentação: Em uma das primeiras saídas à campo me coloco como observador de um quadro, nele não há nada do que um dia pode se chamar de cinema, apenas há um vão de um estacionamento. Ainda com uma fantasia na cabeça saí a procura de alguem que me "daria a pesquisa" facilitando a minha etnografia.
Fundo de Origem: BIEV/LAS/NUPECS/PPGAS
Fonte: Pesquisa antropológica com processos de modelização da memória coletiva e de extroversão de acervos – CNPq (ALCR)
Autor: Pedro da Rocha Paim – bolsista BIT CNPq
Data: 19/05/10
Local: Bairro Bom Fim
Tags: Tecendo a Observação Participante

Minha caminhada começa realmente quando passo pelo viaduto ali da Mariante, essa é a demarcação física que eu pensei já que não tenho a mínima idéia de onde começa ou termina o Bom Fim. Caminho pela calçada da direita de que vai para o centro, o chão como sempre sujo e sempre com muitos carros, passo pela Ramiro e já começo a sentir o cheiro de comércio crescendo, lojas de vários tipos como de sapatos e/ou roupas.
Passando pelo HPS o movimento começa a aumentar, vendedores de rua começam a aparecer nas calçadas, eles vendem de tudo (igual as lojas) luvas, cachecóis, capas para celular, pulseiras, rádios.... Estou no que chamo de Bom Fim da Osvaldo uma área que de um lado há um parque (caindo aos pedaços à primeira vista) e do outro uma série de lojas e estacionamentos. É o que o Baltimore se tornou, um estacionamento gigantesco, e já que é ele que eu quero pesquisar atravessei a rua e sentei no mesmo banco da primeira vez, o banco fica na frente do campo de futebol da redenção ele é bem simples e da uma visão muito boa do lugar que era o Baltimore.
Me sento e começo a esperar que alguma santa alma venha aqui se torne o informante chave, tirei algumas fotos de como é a visão de frente para o terreno.


Então em um movimento de quem percebe que ficar parado ali por mais meia hora não dará nada vou até a lancheria do parque em busca de um informante e um café. A lancheria do parque é um lugar bem variado, as pessoas vão para lá desde tomar um café de manhã ou tomar um suco até jantar alguma coisa. Eu estava como já disse pelo café e por um/uma informante, não necessariamente nessa ordem. Como de costume o lugar estava quase cheio, eu entrei e pedi um suco já que me lembrei que o suco ali é muito bom e já ajuda a começar algum bate-papo, quanta ingenuidade, o cara que me serviu não esperou nem o obrigado... saiu correndo para atender um grupo que estava sentado em uma mesa. Tomei meu suco e saí para voltar ao meu já conhecido banco, nele já estava uma mulher chamada Neusa, ela estava de cabelo preso e com roupas simples, me sentei ao lado dela e puxei a câmera, tirei algumas fotos do que há atrás de mim, do campo de futebol e ela me perguntou o que estava fazendo. Tentei explicar sobre a faculdade e perguntei o nome dela e se trabalhava por aqui. Ela disse que era Neusa e que trabalhava como faxineira no Centro, perguntei se ela morava no Bom Fim e ela disse que estava ali apenas para se encontrar com uma amiga e que morava no Bom Jesus, eu comentei sobre a minha dificuldade de achar alguém para me falar de suas experiências e ela apenas brincou “se tu fazer isso sobre o Bom Jesus eu te ajudo”. Peguei meu caderno para anotar a citação que acabei de fazer e tirei mais umas fotos, enquanto isso a amiga de Neusa chegou e ela se despediu.
Depois que Neusa saiu fiquei pensando sobre esses pequenos bate-papos que tenho nas vezes que fui para aquele banco, todos tem em comum que as pessoas sentam ali para passar o tempo, para fazer nada talvez eu que esteja procurando no lugar errado, a posição é boa porque estou de frente para o terreno que era o Baltimore mas acho difícil encontrar alguém que tenha essa relação com o Bom Fim e muito menos com o antigo cinema. Essa era a segunda vez que fui sentar naquele banco e para não ser em vão eu fiquei ali durante uns dez minutos pensando em algo interessante de se pensar ou escrever... não cheguei em nada apenas uma idéia de que da próxima vez viria em um horário diferente, não mais de manhã mas sim de tarde.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Formulário Captação de Som - Parte 1

Apresentação: Esta é uma ficha de avaliação da qualidade da gravação sonora em campo, nesta caso, uma entrevista com a principal informante da pesquisa. A vendedora ambulante escolheu a Praça de Alimentação num “lojão” do Centro de Porto Alegre para ser entrevistada, e por isso é importante avaliar o resultado da captação do som a fim de ter controle da qualidade do material que será editado.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso (Bolsista de IC/FAPERGS)
Local: Porto Alegre/RS
Data: 09 de outubro de 2007
Tags: Decupagem



FORMULÁRIO DE CAPTAÇÃO DE SONS
BIEV/UFRGS
1) Dados de Identificação:
Local: 2ª andar do Center Shop, na Rua Rui Barbosa próximo a Rua Voluntários da Pátria, no Centro de Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Data (mês/ano): 15 de outubro de 2008
Hora: Entre 12:00 e 13:00 horas
Pesquisador: Priscila Farfan Barroso
Situação: Entrevista com Maria, camelô antiga

2) Equipamentos utilizados:
(x) Microfone (tipo e modelo): omnidirecional
(x) Gravador (tipo e modelo): MD
( ) Manopla (tipo e modelo: _________________________________________
( ) Outros (tipo e modelo:___________________________________________

3) Descrição do espaço (acústica):
(aberto, fechado, forma, pessoas, prédios, carros, etc.)
O Center Shop é um espaço fechado, e se constitui de variadas repartições dentro do mesmo espaço. Eu e Maria estávamos no 2ª andar, onde fica a Praça de Alimentação, como era horário de almoço havia algumas pessoas almoçando, mas não estava muito movimentado. O burburinho de conversa era fraco, entretanto naquele andar havia uma música ambiente, talvez na freqüência de alguma rádio da cidade, que soava ao fundo no local da entrevista. Mesmo que estivéssemos num canto da Praça da Alimentação, havia movimentos de pessoas em direção a uma porta que só podia entrar funcionários, e também garçons que limpavam a mesa quando algum cliente saia. Ainda que o local fosse um “lojão”, tinha certo silêncio em que a entrevista poderia ser realizada, e de alguma forma a constituição da voz de Margarete confluindo com a ambiência do lugar configuraria uma estética de classe popular.

domingo, 19 de setembro de 2010

Formulário Captação de Som - Parte 2

Apresentação: Esta é uma ficha de avaliação da qualidade da gravação sonora em campo, nesta caso, uma entrevista com a principal informante da pesquisa. A vendedora ambulante escolheu a Praça de Alimentação num “lojão” do Centro de Porto Alegre para ser entrevistada, e por isso é importante avaliar o resultado da captação do som a fim de ter controle da qualidade do material que será editado.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso (Bolsista de IC/FAPERGS)
Local: Porto Alegre/RS
Data: 09 de outubro de 2007
Tags: Decupagem


4) Condições de gravação:
( ) Externa (chuva, obras, etc.):
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
( x) Interna (casa de madeira ou tijolos, cortinas, moveis estofados, etc.):

Estávamos sentadas à mesa, num canto da parede com vista para a parte debaixo do Center Shop, e talvez por isso o som esteja um pouco abafado. Não tinha muitas pessoas nesta Praça de Alimentação.



5) Condições etnográficas de gravação:
( x ) Os pontos de escuta: Toda a entrevista ocorre num mesmo local. A escolha dessa mesa no canto se deu por que a hipótese de que menos pessoas circulariam por ali. E também naquele local o música ambiente, que soava nas caixas de som do Center Shop, estava num volume mais baixo ali. Eu apontei o microfone para Maria, mas ele fica no meio de nós duas, de modo que eu estou em frente à ela.
( x ) O pesquisador em campo e suas interações: Enquanto ocorria a entrevista com Maria, um dos garçons passa o pano em nossa mesa, mas isso não interfere sonoramente na gravação. Depois uma moça, que estava sentada na mesa atrás de mim, pergunta as horas para nós, e então Maria responde. Quanto a interação com Maria, posso dizer que ela parecia disposta a contar sobre a sua trajetória social, entretanto pelo ritmo de sua fala percebe-se que houveram momentos mais profícuos em relação à outros.

( x) Experiências no campo: Ter a atenção de uma mulher mais velha, que tem experiência do trabalho na rua, e é conhecedora de regiões da cidade que eu não conheço, me deixou um pouco insegura, pois como uma menina de 23 anos que não é de Porto Alegre poderia compreender o que dizia Maria? Entretanto, a vendedora informal se preocupou em explicar cada ponto que parecia confuso para a aprendiz de antropóloga, mesmo que em alguns momentos os assuntos fossem conduzidos para outras questões.

6) Avaliação
a) Avaliação dos resultados técnicos (qualidade do áudio): A voz da fala de Maria está sempre em primeiro plano, e pode-se ouvir com clareza o que diz. Durante a entrevista a antiga camelô gesticula, faz sons com as mãos, esbarra no microfone, mas mesmo assim não a qualidade do áudio não é prejudicada.

b) Avaliação dos resultados narrativos (encadeamento de cenas, histórias que podem ser contadas, caráter etnográfico da captação, etc.):
No começo da entrevista, Maria conta sobre sua trajetória social, sem interrupções ela parece ter um discurso pronto, ou seja, encadeia certas cenas para contar como começou a trabalhar como camelô e depois saiu de Pelotas e veio para Porto Alegre. Ao mesmo tempo em que fala de sua rede de solidariedades através da condição de trabalho como vendedora de rua, dá pistas de sua narrativa biografia quando comenta sobre os maridos que teve e o relacionamento com sua família. Na fala dela pode-se captar o ritmo do trabalho informal, um aspecto aventureiro da profissão, em que se tem a melhor banca da rua, e no dia seguinte é possível perder tudo. Entre esses altos e baixos, Maria conta suas interações com outros vendedores ambulantes, entre competição e a amizades com camelôs novos e antigos, dessa forma a condição ambígua de estar na rua está presente em toda a entrevista, o que reflete a riqueza da interação que permitiu falar sobre trajetória social.