terça-feira, 17 de novembro de 2009

Vendendo DVD na Rua Voluntários da Pátria

Apresentação: O diário de campo da aprendiz de antropóloga apresenta estratégias de propagandas, vendas para transeuntes e a disposição no espaço público relacionado aos vendedores ambulantes da Rua Voluntários da Pátria. Nos fragmentos textuais, os nomes dos informantes foram trocados para preservar suas identidades.
Fundo de origem: BIEV/NUPECS/LAS/PPGAS
Fonte: Projeto Coleções etnográficas, itinerários urbanos e patrimônio etnológico: a criação de um museu virtual. – FAPERGS/CNPq (ALCR)
Autor: Priscila Farfan Barroso. Bolsista IC FAPERGS
Data de produção: 25/05/2007 e 8/05/2007
Tags: Rapsódias Urbanas



“Um cliente procura pelo DVD do “Homem aranha 3”, e parece que Ângelo não tem. (...) Um casal bem arrumado observa os produtos exibidos e chama a atenção do vendedor, então este mostra seu arsenal [de produtos]. “Ai!”diz casando o senhor do “COMPRO, VENDO E DESBLOQUEIO CELULAR”. Apontam o “Homem aranha 3” dublado, e Diego retira da armação para que eles possam analisar melhor. A namorada segura os três DVDs e o rapaz paga, como um bom cavalheiro. Ângelo põe um “selinho” no produto, caso a pessoa queira trocar. Ou seja, podemos perceber que no atendimento dos clientes Fábio cuida mais do atendimento, e Ângelo troca o dinheiro e passa credibilidade do produto. È claro que não existe estabilidade nesse processo, os dois fazem de tudo um pouco, mas trata-se de uma dupla, e não um vendedor com seus produtos. (...) Depois de mais uma compra, Diego aproveita para ajeitar os DVDs que não foram aceitos na armação. Chega mais um cliente e pede pelo “Homem aranha 3”.”

“Não estava muito criativa, e sentei no mesmo lugar da última saída [de campo], em frente à galeria. “CHEGOU O DVD DO HOMEM ARANHA”, e lá estavam eles apresentando o lançamento. Eu estava com muito frio, e não era a única, os ambulantes [estavam] bem vestidos, com calça, blusões de frio, alguns com gorro, realmente essa temperatura nada amena deixa as pessoas mais arrumadas, [em minha opinião]. Um deles (vendedor ambulante) tinha o cabelo bem cortado, com uma blusa de lã preta, calça jeans e sapato caramelo. “HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA, HOMEM ARANHA AQUI”. Eu já tinha ouvido falar desse lançamento no cinema, e até fui convidada por um colega para assistir, como uma boa menina tinha interesse mais na produção hollywoodiana do que em saber da história.
“HOMEM ARANHA DUBLADO, VAMOS QUE EU QUERO GANHAR MAIS DINHEIRO!”. Atrás de mim, alguém da galeria chama um dos ambulantes, como fazia parte do roteiro, observei esses entrosamentos entre lojistas e vendedores da rua. “Dublado só eu tenho, imagem boa, homem aranha!”, eles conversaram um pouco, e o menino voltou pro seu posto. Escuto de um pedestre caminhando por ali “Estreou sexta-feira, e já tem em dvd!”, pois é minha cara a malandragem da rua faz sua propaganda ao mesmo tempo que as grandes agências de publicidade.”

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